- Nota da editora: Como eu moro onde milhões de pessoas passam férias, costumo usar esse período para ir para outros destinos. E aqui compartilho com vocês o que vivi na minha última passagem em São Paulo, no réveillon. Sim! Fugi da praia!
Já tem um certo tempo que venho me incomodando com um excesso de nudez feminina como justificativa artística no cinema e na TV. Nas artes plásticas é a mesma coisa. E nessa, quase nos acostumamos a aceitar uma pintura antiga, por exemplo, sem pensar no contexto social inserido na ação de uma mulher ficar nua e ser retratada pelo olhar de um homem.
Neste contexto, foi com muita alegria e um respiro de “ufa, não estou sozinha nessa” que li uma matéria da Guerrilla Girls na – ótima e agradável – revista da Gol durante um voo. A matéria informava que elas fariam uma exposição no Masp! Uau! Falar sobre machismo na arte dentro do mais importante museu de arte da América Latina? Imperdível!
Feminismo é coragem, e a Guerrilla Girls tem tudo isso.
A Guerrilla é um grupo de ativistas feministas anônimas, que, desde 1985 vêm escancarando os preconceitos de gênero e raça nas artes, além de expor também a corrupção na política, na arte, no cinema e na cultura pop. Seus trabalhos têm como foco, principalmente, os Estados Unidos, mas abrangem temas e dados universais.
Tudo começou em 1984, quando uma exposição no Museum of Modern Art, em Nova York, recebeu obras de 153 artistas homens e apenas 13 artistas mulheres. A chocante discrepância revelava algo que nós – mulheres – sabemos bem: o protagonismo masculino é um viés machista inconsciente e limitador para o crescimento profissional das mulheres. Em resposta, um grupo passou a protestar com máscaras de gorila e humor sagaz para tratar do tema.
Eis que fui ver de perto a retrospectiva completa desse trabalho ativista, com 116 trabalhos expostos – incluindo dois feitos especialmente para o Brasil – que está em cartaz no Masp até fevereiro. É imperdível!
A Guerrilla Girls passou a influenciar o mercado das artes ao levantar dados – no mínimo sinistros – sobre a presença feminina no setor. Um cartaz épico é o “As mulheres precisam estar nuas para entrar no Metropolitan Museum?” de 1989, em que mostra que apenas 6% deste acervo é composto por mulheres, enquanto o número de nus femininos é de 85%. Dados de 2012 mostram que pouco mudou em quase 30 anos (4% e 76%). Há uma versão brasileira para o cartaz, com dados do Masp.
E justamente por se colocar aberto para essas críticas, o Museu de Arte de São Paulo nos lembra a importância do questionamento e da visibilidade que precisamos para tratar do feminismo em todas as escalas da sociedade. As GG ainda vão além. Falam também de privilégio branco, eurocentrismo e heteronormatividade. Levantando as questões mas sem juntar tudo no mesmo saco. A exposição nos deixa inquietxs, sacudindo aquela pulga atrás da orelha que, às vezes, nem sabíamos que estava ali. E este é mais um papel da arte: provocar.
A exposição Guerrilla Girls – Gráfica 1985-2017 está em cartas no Masp até 14 de fevereiro de 2018. A entrada custa 30 reais (e às terças é grátis). Aproveita e confere outra exposição de balançar com as nossas estruturas que está rolando por lá: A história da sexualidade.
É por essas e outras que eu amo São Paulo!
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Guerrilla Girls – Gráfica 1985-2017
Onde: Masp – São Paulo
Quando: até 14/2/2018, de terça a domingo
Quanto: R$30 (inteira) e às terças-feiras a entrada é gratuita